Olá, pessoal!
Quero trazer uma reflexão hoje, com base no poema “Onde Você Vê”, do poeta português Fernando Pessoa.
Este poema, primeiramente, fala sobre percepção. Você pode olhar para o céu azul e falar “que dia lindo” e outra pessoa se encher de infelicidade pelo mesmo motivo. O que faz as pessoas terem percepções tão diferentes sobre a mesma coisa?
B. F. Skinner, um dos mais famosos teóricos da Psicologia Comportamental, diria que é uma influência de três fatores: o nível biológico (sentimentos, genética, sensações), o nível filogenético (a história de vida de alguém, experiências boas e ruins, bagagem/vivência) e o nível cultural (onde nasceu, em que cultura está inserido, quais valores são ensinados, interações sociais). Tudo isso determinaria como reagimos, como pensamos, como sentimos e como nos comportamos nas situações. Como entendemos o mundo e as pessoas.
Esse é um conceito interessante para mim pois entra no debate mundo interno x mundo externo, realidades diferentes, verdades de cada um, tempo e relatividade e uma metáfora que gosto muito sobre óculos:
Eu uso óculos de grau (anos de leitura e wishful thinking). Se eu te der o meu óculos, você pode ou não enxergar bem a partir dele. Pode ser que fique embaçado, que doa o seu olho, que você faça uma cara de confusão e aperte os olhos tentando focar. Você pode tentar muito, mas o meu óculos pode ser que não fique bom pra você. Além do grau, tem o estilo estético dele, que faz eu ser eu (e não apertar minha cabeça nem atrás das orelhas ou no nariz). Pode ser que você goste, mas ainda não vai ser o seu óculos.
Eu, sem o meu óculos, não vou me orientar bem no mundo. Pois é o meu óculos, de mais ninguém. Se você usasse óculos e me desse o seu, se você não usasse exatamente o mesmo grau que eu (o que é difícil, pois cada olho tem um grau), eu não enxergaria igual você. Na verdade, mesmo que o seu grau fosse igual o meu: ainda sim não enxergaria como você. Porque eu sou eu. E você é você.
Talvez eu me sentisse usando uma roupa desconfortável e que definitivamente não é minha, por mais que eu tente gostar e dizer a mim mesma que eu estou bem com aquela roupa (e todos já passamos por isso: aquela roupa que você queria muito gostar mas não rola). Vamos pensar metaforicamente: podemos gostar da roupa, achar linda, mas não conseguimos usar.
E está tudo bem! Não precisamos gostar de tudo, usar tudo, ser tudo. Nós temos direito a escolher e a criar a nossa própria identidade, nosso próprio mundo colorido de opiniões. E uma das belezas da vida é que podemos mudar de opinião, atualizar nossos conhecimentos e aceitar as nossas diferenças.
Acredito que seja isso, também, que o poema se trata. Da multiplicidade e riqueza que há no mundo. É frustrante querer que o outro viva de acordo com as nossas próprias regras e percepções.
A passagem que eu mais gosto no poema é:
Um outro compreende as limitações do companheiro, percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo. E que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso.
E aí, o que vocês acharam?
Comentem, quero saber.
Obrigada por estarem aqui! 🙂
Compartilhe