O castelo de areia – expectativas e realidades

Olá, pessoal!

Hoje estou inspirada e quis trazer para vocês uma reflexão interessante sobre desapego. “De quê?”, você pode estar se perguntando. De tudo, mas principalmente das suas expectativas e fantasias sobre o mundo. “O quê, eu estou fantasiando? Nem a pau! Os outros que não fazem nada certo”. Será? 🙂

Gosto de metáforas, e quis contar uma história que gosto muito, a do castelo de areia, para vocês:

Haviam duas crianças na beira da praia construindo um castelo de areia, com seus baldinhos no formato de torre medieval, pázinhas escavadeiras e muito vai pra lá vem pra cá no mar carregando baldes de água salgada até o local de construção. Animadas, cavaram um buraco para sustentar, carregaram bastante areia para fazer um degrau e começaram a empilhar areia sob areia. Pegaram, vasculhando pela praia, objetos que o mar deixou de presente na beirada para fazer os detalhes do seu castelo. Seria muito bonito e os pais das crianças iriam amar. Lá pelo terceiro andar, quando uma das crianças fazia os detalhes de portas e janelas, veio sutilmente dar oi uma onda. Desesperaram-se, haviam escolhido aquele canto da praia justamente para isso não acontecer. Não podia acontecer, tanto esforço pra nada. Mas já se passava do meio dia, e a maré também queria ver o belíssimo castelo de areia. Apressaram-se para terminar e foram finalmente chamar os pais para verem a obra-prima. Quando chegaram, de mãos dadas aos pais, perceberam que o castelo de areia não estava mais lá. Procuraram, procuraram e procuraram, mas não havia sequer marcação do grande buraco de fundação. Os pais, acostumados, sorriram amorosamente e aconselharam as duas crianças: “castelos de areia são assim. O mar gostou tanto que levou embora. Da próxima vez vocês fazem outro, e outro e outro de novo”.

Hehe. Vejam a profundidade dessa metáfora. Nada é para sempre, às vezes nos esforçamos tanto para algo que é efêmero e cheio de fantasias e desejos nossos. Não controlamos o mar, não controlamos a areia, o vento, os outros. Mas sempre dá para fazer de outro jeito, com outra fundação, outro ambiente, outras pessoas. Recomeçar. Veja só: daquele jeito, que queríamos muito, não é possível. Não importa o quanto nosso castelo seja resplendoroso, gigantesco, luxuoso, acolhedor ou convidativo.

Podemos aprender a apreciar o castelo de areia exatamente pelo que ele é, com sua natureza fugaz e bela. É um castelo de areia, que me esforcei para construir, ficou lindíssimo, e vou curti-lo pelo finito que existirá no mundo. E será isso. Praticantes de mindfulness (atenção plena) exercitam essa percepção todos os dias.

Para ajudar a entrar no clima de reflexão, reuni alguns vídeos sobre o assunto que apresentam conceitos muito bacanas:

Neste vídeo do psicólogo Marcos Lacerda (quem me acompanha sabe que sou fã e considero de muito valor o que é proposto nos vídeos dele) ele responde a perguntas dos inscritos e coloca muito bem a questão de dependência emocional e expectativas, que fazem mal a todos mas principalmente para quem não as enxerga. Uma frase que ele expõe é: “Não deposite todas as suas expectativas afetivas em algo ou alguém”. Às vezes, por querer muito algo, movemos céu e terra, montanhas e mares; mas não aceitamos que também existem coisas que não são para serem realizadas, especialmente do jeito que a gente queria. A vida é assim.

Digo isso para ideias também. Um caminho que planejamos a vida toda pode ser tortuoso e nos dar aquele gostinho amargo de não ser como sempre pensamos que seria. O que acontece é que nos prendemos tanto na imaginação (e é aí que a expectativa é criada) que esquecemos da realidade, esquecemos que nós mudamos muito no caminho e quem sabe nem queremos mais aquilo que achávamos que queríamos tanto! Porque não somos os mesmos de quando começamos. E tudo bem mudar, aceitar e receber essa transformação.

Para exemplificar esse pensamento, temos um vídeo fresquinho de um depoimento pessoal da psicóloga Anahy D’amico no podcast Podpeople da Dra Ana Beatriz Barbosa. Ela se casou e, no avião para a lua de mel, o marido virou para ela e disse “me arrependi, não quero mais”. E aí, como lidar?

Outro pertinente exemplo é o filme 500 Dias com Ela (500 Days of Summer, 2009, Mark Webb, estrelado por Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt). A história aborda um relacionamento em que há quebras de expectativas (e é retratado isso bem explicitamente, naquele modelo expectativa x realidade). Quando o filme foi lançado, a concordância sobre a moral era que a personagem Summer, parte do relacionamento com Tom, era a vilã por – SPOILER – não ter ficado com ele. Por anos manteve-se essa visão, até que discussões sobre independência emocional se ergueram com mais força e análises diferentes da relação foram trazidas à luz: quem não aceitava a configuração da relação era, na verdade, o romântico idealista Tom. É um filme interessantíssimo para aprender mais sobre relacionamentos.

Se quiser uma análise sobre o relacionamento do filme, recomendo este vídeo da Fabíola Simões, “As Pessoas Enviam Sinais”.

O que acharam? Bateu por aí algum conteúdo?

Obrigada por estarem aqui.

Até a próxima! 🙂

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Caroline Tirado

Caroline Tirado é psicóloga e escritora. Escreve desde os 12 anos. Sempre foi curiosa e questionadora dos por quês da vida e do mundo, principalmente sobre o comportamento humano. Aprecia as coisas simples. Gosta de filmes, séries, livros, HQs, músicas, jogos e o que há de legal por aí.

Este post tem 3 comentários

  1. Anônimo

    Texto muito bem colocado sobre aceitação e como a vida funciona, as coisas são o que são: simples assim😀

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