Inteligência é apenas esforço?

Olá, pessoal.

Hoje a discussão que venho propor é sobre esta frase atribuída ao físico Albert Einstein:

“Todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que é estúpido”.

Mencionei que ela foi atribuída, ali em cima, pois é algo divulgado erroneamente: ela não foi dita pelo Einstein. É de cair a bunda que ela tenha sido creditada a ele esse tempo todo! Ninguém sabe exatamente de onde veio, mas se estima, segundo informação encontrada no site Universo Racionalista, que seja retirada de um livro de 2004 (The Rhythm of Life: Living Every Day with Passion and Purpose – Matthew Kelly) que foi inspirado em outro livro de 1940 (The Animal School – George Reavis) que falava sobre uma escola de animais (confuso, mas um mistério resolvido pelo menos).

Lembro de ouvi-la pela primeira vez quando estava na adolescência, e ela sempre ficou no fundo da minha cabeça (naquela época não havia tanta internet rs). Para mim, relaciona-se a usar o mesmo critério de avaliação para todos, e entra no debate de injustiça x justiça, inclusão x exclusão, e principalmente sobre ser inteligente.

Em 1983, um psicólogo de Harvard chamado Howard Gardner formulou a teoria de que existe mais de um tipo de inteligência. Pasmem: existem 9 (e contando)! Seriam elas: (1) inteligência linguística, (2) inteligência interpessoal, (3) inteligência intrapessoal, (4) inteligência lógico-matemática, (5) inteligência musical, (6) inteligência espacial, (7) inteligência corporal-cinestésica, (8) inteligência naturalista e (9) inteligência existencial. Se quiserem saber mais, pesquisem, pois é super interessante!

Todos somos bons em alguma coisa. Por mais que você tente achar que não, procure melhor e achará algo em que você se destaca. Em Young Sheldon (2017, CBS), por exemplo, que conta a história do personagem Sheldon (um garotinho de 9 anos que é um “super gênio”), sua irmã gêmea, Missy, é constantemente comparada às habilidades de lógica do irmão, e se sente inferior, até que um dia os levam para participar de um experimento e pela primeira vez na vida ela se vê mais valorizada do que ele, pois conseguia perceber as pessoas, conversar e desenrolar muito melhor. Fica clara a discrepância social. Ambos são inteligentes, cada um de sua maneira.

Tem sido levantada uma discussão acalorada nas pesquisas científicas a partir dos anos 2000 no campo de altas habilidades/superdotação sobre inteligência x esforço. O “talento” nasce ou é criado? Por enquanto, não há consenso e nem se está perto de ter; pesquisas continuarão a ser feitas. Quando me especializei nesta área, havia muita divisão. Mas acredito que uma hipótese interessante seja a combinação genética (debate oportunidade x naturalidade) e ambiental, englobando fatores como alimentação (especialmente nos anos de desenvolvimento primordial, 0-6 anos), histórico de hábitos familiares (o que era estimulado e o que não era? Comportamento-espelho), dinâmica de relacionamentos (amor e afeto recebidos), cultura (havia acesso, havia oportunidade?) e principalmente a personalidade do indivíduo. Pronto, resumi 100 artigos em um parágrafo rs.

Já bastante food for thought (alimento para a mente), a frase do “Einstein” pode ser conectada a outras como:

“Diamantes são formados sob pressão”,

“As uvas devem ser esmagadas para fazer vinho”

Mas o que me intrigou, e foi a inspiração para trazer essa reflexão, foi a associação a outras duas frases de uma outra maneira:

“A massa do pão cresce quando você a deixa descansar”,

“A mesma água fervente que amolece a batata endurece o ovo”

Aqui conecto com a parte mais psicológica. Quando pensamos em inteligência, frequentemente associamos à matemática e à capacidade de pensar racionalmente. Embora, de fato, sejam habilidades úteis e importantes para a sobrevivência da espécie e destaque cultural por possíveis contribuições, não é a única definição de inteligência. Imagine o típico estereótipo de geek em uma festa universitária, ou apresentando um seminário sobre educação sexual a adolescentes. Ou o típico estereótipo de menina popular respondendo a uma prova de cálculo 2 na faculdade (calma! A palavra-chave aqui é “estereótipo”, eles existem por enfatizarem uma coisa mais do que a outra). Talvez eles explorem o seu potencial em uma zona de conforto da sua área de interesse, mas se esquecem de viver outras experiências que não englobem o que dominam. Isso significa que todos devem sair da zona de conforto o tempo todo e serem bons em tudo? Não. Mas considerar que existem coisas a serem exploradas e vividas, isso sim contribui para o autoconhecimento, para a individualidade de cada um e para reconhecermos que todos somos inteligentes.

É por isso que nada é igual, mas tudo se relaciona: as pessoas são diferentes, têm personalidades diferentes e habilidades diferentes. Um macaco é expert em subir em árvores; um peixe é um exímio nadador. Ambos sobrevivem explorando as habilidades que seus ambientes requisitam e não precisam se submeter a outros para afirmarem algo subjetivo. Na verdade, morreriam se tentassem rs. Não adianta forçar, cada um tem seu lugar. Ninguém é igual a ninguém e tudo bem, ainda bem!

Ufa, discussão complexa e interessante. É um tópico que precisa ser mais estudado com o passar dos anos e dos avanços tecnológicos, pois o cérebro humano continua sendo bombardeado por mais estímulos do que nunca (recomendação de leitura: O cérebro no mundo digital, 2019, Maryanne Wolf) e teremos algumas consequências aí em termos de como lidar com tudo isso, quimicamente e psicologicamente.

O que acharam dessa maionese toda?

Obrigada por estarem aqui!

Até a próxima.

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Caroline Tirado

Caroline Tirado é psicóloga e escritora. Escreve desde os 12 anos. Sempre foi curiosa e questionadora dos por quês da vida e do mundo, principalmente sobre o comportamento humano. Aprecia as coisas simples. Gosta de filmes, séries, livros, HQs, músicas, jogos e o que há de legal por aí.

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