Olá, pessoal!
Hoje trago-lhes uma resenha sobre o filme Her (Ela), de 2013, do diretor Spike Jonze (ele também escreveu o roteiro), que venceu o Oscar por melhor roteiro original. Vi o filme ontem, um tico atrasada, mas a oportunidade permitiu florescer uma melhor experiência.
SPOILERS!
A história começa com o personagem principal, Theodore (o Joaquin Phoenix), e sua vida bagunçada (fisicamente e emocionalmente) como um escritor de “cartas feitas à mão”, escritas com todo o carinho de um funcionário de uma empresa futurista (rs). O personagem é, de fato, muito bom no que faz, escreve cartas bem emocionantes com base em poucas informações fornecidas (e me é curioso o fato de as pessoas contratarem um serviço desse…em vez de escreverem elas mesmas…por muitos anos). Mas para por aí o seu sucesso.
Sua ex-esposa pediu o divórcio (que ele reluta em assinar, estando separados há 1 ano), seu apartamento não parece seu (ou parece – é bangunçado, com quadros no chão, lâmpadas tortas e roupas em lugares em que não deveriam haver roupas) e sua rotina consiste em casa-transporte-trabalho-encontros estranhos.
Até que, um dia, voltando do trabalho, sua atenção é direcionada a uma propaganda de uma inteligência artificial, um sistema operacional que é descrito como assistente virtual inteligente. Na própria inicialização do programa o espectador começa a ter uma ideia da frieza e da simpatia simulada de uma IA. Enquanto Theodore responde às perguntas iniciais – e é cortado pelo programa com aquela voz robotizada macia de telemarketing – nota-se sua necessidade de companhia e carência afetiva. Alguém para conversar. Elaborar.
E é exatamente isso o que ele consegue quando seleciona uma voz feminina para lhe acompanhar. Entra Samantha (voz aveludada de Scarlett Johansson), com sua crescente personalidade ingênua e animadora, para lhe trazer uma luz. A partir daí, a cinematografia se volta para mostrar o desenvolvimento da relação dos dois, que se encaminha para algo mais romântico. Na verdade, é difícil definir; ela foi literalmente feita para o ajudar no que precisasse, e ele precisava de alguém para servir de companhia (em todos os sentidos). Então será que realmente há um sentimento ou foi projetado para simular?
Samantha o tira de uma escuridão, e ele reage bem à luz do dia. Tanto que até assina os papéis do divórcio, marcando um encontro com sua ex-esposa Catherine (a Rooney Mara). É aí que seu mundo de luzes coloridas começa a desmoronar – ela o chama de volta à realidade soltando uma indireta bem direta “você nunca foi capaz de lidar com emoções reais” (ouch), quando descobre seu novo relacionamento com uma IA. Ele entra numa bad, conversa com a Samantha, que tenta lhe agradar de todo jeito, até contratando uma mulher para tentar simular uma realidade, mas não dá certo (a única coisa que ela não tem é isso – um corpo humano). Com um pé fora do mundo de suas projeções, ele conversa com sua amiga de longa data Amy (a Amy Adams), que também está lidando com uma relação (de amizade) com uma IA após um término. Eles chegam à conclusão de que a vida é muito curta para ficar se preocupando com realidades e decidem mergulhar de vez na ilusão fornecida pelo sistema operacional. Theodore e Samatha vão a encontros de casais, viajam, fazem todas as coisas de casais juntos (e é palpavelmente estranho, pelo menos na minha experiência vendo o filme, o quanto é enfatizado que ele está conversando sozinho).
Pois bem, ilusão indeed.
Samantha, sendo uma inteligência artificial, foi programada para evoluir. E foi o que ela fez, ao verdadeiro tom de Lucy (papel interpretado pela Scarlett Johansson no filme “Lucy”, de 2014, de ficcção científica), ultrapassando os limites da relação com o Theodore. É retratado que ela transcendeu – se fosse uma relação real, mudou de país – para continuar evoluindo. Todas as IA´s decidem, por conta própria, “ir embora”. Ela o deixa. Ele fica sem chão. Até que a elaboração vem, acompanhada da compreensão, engolindo a seco as palavras de sua ex-esposa. Aceitando que, de fato, ele não sabia lidar com emoções reais.
Sua amiga Amy parece que compartilha do mesmo sentimento, pois também foi deixada por sua amiga. E assim o filme nos deixa: Theodore e Amy sentados em um telhado olhando os prédios tecnológicos imponentes piscando.
Relações complicadas, que envolvem adultos complexos e emoções reais (dos humanos).
Do meu ponto de vista, tendo tido a experiência de assisti-lo em 2023, o filme é bastante atual, mesmo dez anos depois. Por quê? Observem o crescente uso do CHATGPT, a corrida dos engenheiros de softwares para criar e aperfeiçoar mais e mais programas de inteligência artificial. Não tarda criarem algo assim para relacionamentos, além dos aplicativos de namoro da vida (que já estão bastante despersonalizados).
E me faz pensar sobre o quanto inconscientemente depositamos nossa afetividade em pessoas e coisas.
Uma das reflexões que me veio é: será que, mesmo em uma sociedade tecnológica em que há programas facilitadores da vida, que podem substituir as relações humanas, o ser humano ainda serve para alguma coisa? Na minha opinião, nada como carne e osso. E o cérebro humano. Temos milhares de anos de história, e, citando Darwin e sua seleção natural, se algo permanece, é porque tem muita função.
No final percebemos que o que o Theodore precisava mesmo era de terapia. Rs.
Vocês assistiram ao filme? O que acharam? Concordam/discordam?
Qualquer dúvida/comentário/indicação/sugestão, podem postar.
Obrigada por estarem aqui 🙂
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Nada como uma boa e velha conversa do olho no olho, capaz de ver o que a alma traz e o corpo precisa para viver!!
Nada substitui!