A princesa e a ervilha (conto adaptado)

Olá, pessoal!

Hoje quero conversar sobre o conto da princesa e a ervilha.

É um conto antigo dinamarquês que fala sobre a saga de um príncipe para encontrar uma princesa, e o teste que ele fez a procurá-la. Quero propor, entretanto, um twist nessa história. Um outro olhar, uma adaptação.

Para quem quiser ler o conto original, ele se encontra disponível neste site do Pensador.

A minha adaptação do conto é a seguinte:

Havia uma princesa, que ganhou do rei a mais bela e invejável cama do reino. Lençóis brancos mil fios egípcios, oito travesseiros de pluma de ganso, uma colcha bordada com fios de ouro e almofadas feitas do tecido mais macio do mundo. Era o assunto da semana nas rodas de conversa do palácio e nos campos de lavanda que perfumavam a vila em que viviam. A princesa estava felicíssima; deitou-se, na primeira noite, soltando suspiros de prazer conforme afundava-se nos lençóis. Ao acordar, no entanto, surpreendeu-se com uma curiosa dor nas costas. Depois de três dias, a dor só piorava, e a princesa aparecia nos eventos com fundas olheiras e uma postura torta. “Só pode ser o colchão!”, pensou. A solução lhe veio imediatamente: “Coloquem mais um colchão em cima deste!”. E assim se deu: com plena convicção de que agora dormiria bem, as olheiras desapareceriam e teria sua postura régia de volta, a princesa adormeceu. Acordou antes do sol, com a ainda mais insuportável dor nas costas. Não conseguia entender como dormia tão mal na cama que deveria ser a mais confortável e luxuosa do reino. Tornava-se cada vez mais irritada e sem paciência, e ninguém sabia o porquê da princesa andar pra lá e pra cá o dia inteiro pelo castelo, insatisfeita. Na noite seguinte ordenou mais um colchão. E outro. E mais um. Até que a cama finalmente cedeu, fazendo um estrondo. Sua estrutura francesa quebrou e a madeira partiu-se ao meio; o quarto encheu-se de poeira, pano chique rasgado e colchões pesados, que como tsunami precipitaram-se destruindo o que encontravam na frente. De repente, o luxuoso conforto não significava mais nada. Abaixo de todo o caos, via-se uma pequena ervilha, presa ao estrado da cama.

Muito que bem! Quem manja de interpretação do texto deve ter pegado a referência.

Moral: às vezes o que nos incomoda é tão pequeno, do tamanho de uma ervilha, que não percebemos. Não levantamos o pesado colchão que a cobre, não arregaçamos as mangas para enfrentar e saber o que está acontecendo e assim vamos colocando mais colchões, dificultando o nosso acesso à pequena ervilha que tanto nos incomoda. Complicamos, porque temos medo do que pode estar ali. Porque não sabemos. Porque não queremos saber. Porque não queremos que haja algo ali. Não era pra ter uma ervilha em uma cama perfeita. Era para, finalmente, estarmos felizes. Então por quê acordamos com dores nas costas? 

Acredito que esta interpretação abre para tantas outras que pode ficar um pouco nebuloso. O que fez sentido para mim é que em muitas situações da vida achamos que é só colocar debaixo do tapete, ignorar, não fazer nada que algo se resolve sozinho. Existem situações em que isso realmente acontece – aquela coisa de saber onde, como e quando agir. Mas também acredito que por vezes acabamos nos enganando e não querendo mesmo encarar a realidade, porque idealizamos algo e esperamos que as coisas aconteçam segundo a nossa própria expectativa. E não é assim que a banda toca. Rs.

Vejam, a princesa ficava cada vez mais infeliz e estressada insistindo em “resolver” do jeito que ela achava que seria o certo. Parece óbvio pra você que era só erguer o colchão e procurar o que poderia ser? Para a princesa, não. Assim como para nós algo é tão difícil de entender, mas pra outra pessoa pode não ser. Todo mundo tem suas dificuldades e facilidades.

Qual é a sua ervilha, e quais sãos os seus colchões? 

Fica a reflexão! 🙂

O que acharam? Já haviam visto essa interpretação da história?

Obrigada por estarem aqui.

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Caroline Tirado

Caroline Tirado é psicóloga e escritora. Escreve desde os 12 anos. Sempre foi curiosa e questionadora dos por quês da vida e do mundo, principalmente sobre o comportamento humano. Aprecia as coisas simples. Gosta de filmes, séries, livros, HQs, músicas, jogos e o que há de legal por aí.

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