A caixa porta lenços e as pérolas descoladas

Olá, pessoal!

Vou lhes contar uma história que me permitiu refletir sobre nossas buscas.

Estava lá eu, fazendo uma limpeza rotineira em um canto da minha casa, quando encontrei uma caixa porta lenços de madeira e pérolas. Fiquei muito feliz, havia esquecido de sua existência e me seria útil para abrigar o refúgio de muitas pessoas na minha clínica. Em meio a papéis e bagunças, perguntei-me: “por que isso estava guardado?”, e logo ao manusear o objeto veio a resposta. A caixa estava com algumas pérolas descoladas e soltas, nada que comprometesse sua funcionalidade. Imediatamente comecei a conjecturar ideias e maneiras de onde conseguir mais pérolas, e qual tamanho será que mais se assemelharia ali, se haveria variação de cores, se eu teria que levar a caixa junto para escolher, qual mochila ou bolsa ela caberia melhor, se ficaria muito pesado para eu levar, qual loja e quanto custaria; já cansada da arrumação, e tropeçando em uma pilha de livros enquanto pensava, deixei para lá e a coloquei na bolsa para levar ao consultório. Não parei de pensar em possíveis soluções. No outro dia, chegando na clínica, ponderei sobre usá-la assim mesmo ou voltá-la ao armário. Decidi ver como ficaria com um lenço de papel dentro, e ao abri-la soltei um riso, daqueles de coincidência: dentro da caixa havia todas as pérolas que haviam se desprendido. Era só colar novamente. E eu gastei neurônios, tempo e preocupações pensando no que faria para arrumá-la, se ficaria bom, se as pessoas reparariam, o que isso diria da organização do meu consultório, da minha imagem como profissional, quanto me custaria para arrumar…

A questão é: às vezes pensamos muito e a solução é algo simples. Buscamos soluções externas, e isso pode ser desgastante, tanto que pode nos desestimular e trazer sentimentos negativos. Sim, só com o pensamento de fazer algo. Existe uma expressão popular que diz que o “cérebro está saindo fumaça”. De tantos pensamentos acelerados, parece que está pegando fogo. Sobrecarregou o sistema. E isso diz muito sobre o nosso processo de pensamento, como pensamos (metacognição), não necessariamente se algo é bom ou ruim para nós. De quantas coisas já não desistimos por ser muito complicado, por demandar muito de nós ou até tentamos e tentamos e não conseguimos, e por isso desistimos? (nota importante: isso é diferente de uma escolha após uma análise consciente do que é melhor para nós; e até essa análise pode ser feita de forma a nos sobrecarregar, que o processo de tomada de decisão fica complicado e nos atrapalha justamente nisso)

A forma como enxergamos algo, como iniciamos um trilho de pensamento e como nos sentimos sobre isso vão delineando a nossa perspectiva. A questão das pérolas descoladas na caixa porta lenço era simples, bastava eu ter olhado dentro dela. Mas parti do pressuposto de que foi guardada por terem sido perdidas, e não estarem ali para colar de volta; vai que foi outra coisa que fez com que fosse guardada. Ignoramos que a resposta pode estar dentro de nós, em vez de buscar externas que não levam a nada e podem estar nos fazendo mal, desgastando e desestimulando. Nos desviando de caminhos que poderiam ser frutíferos. Nos fazendo criar mil situações mirabolantes que podem nunca acontecer, nos afastando da simplicidade de tomar uma decisão e seguir o rumo.

Sim, a caixa porta lenços hoje está bem bonita perolada abrilhantando a experiência das pessoas que convivem na minha clínica.

E aí, o que vocês acharam da reflexão?

Obrigada por estarem aqui! 🙂

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Caroline Tirado

Caroline Tirado é psicóloga e escritora. Escreve desde os 12 anos. Sempre foi curiosa e questionadora dos por quês da vida e do mundo, principalmente sobre o comportamento humano. Aprecia as coisas simples. Gosta de filmes, séries, livros, HQs, músicas, jogos e o que há de legal por aí.

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  1. Anônimo

    👏🏼👏🏼👏🏼

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